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A Elphaba...

Adoradora de literatura em geral.
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sexta-feira, 26 de abril de 2013
Sinopse:
Este é o primeiro romance do indonésio Andrea Hirata, que o escreveu em homenagem à sua escola, aos seus professores e ao grupo de crianças com quem cresceu e partilhou experiências extraordinárias. A história é contada na primeira pessoa por Ikal, um rapaz que tem seis anos quando o romance abre, e decorre na pequena ilha de Belitong, onde a maioria da população vive em condições de extrema pobreza. Para estas crianças, a sua escola, uma velha construção de madeira, é o lugar onde são felizes e a única possibilidade de escaparem à pobreza. Mas para eles como para os dois únicos professores há que travar uma batalha constante face à ameaça de a escola ser fechada. Felizmente Pak Harfan, o diretor da escola, e Bu Mus, a jovem professora, souberam incutir nestas crianças a autoestima e o amor pelo conhecimento que lhes permite defender corajosamente o seu direito à educação.

Após ter tido a oportunidade de me sentar a escutar as doces palavras de Andrea Hirata pensei que seria fácil falar da leitura da sua obra que, no seu âmago, aborda temas susceptíveis mas de conhecimento comum do leitor em geral - sociedade, religião e educação. No entanto, agora que virada a última página, de um folhear nem sempre fácil, sinto-me tão cheia de emoções que é difícil falar dos sonhos e dos problemas desta trupe de crianças, deste conjunto de meninos que, em tenra idade, escalou uma montanha muito maior do que a minha, muito maior do que a da maioria das pessoas, e sempre com um sorriso no rosto, sempre com a ambição de serem felizes.

Esta história é quase simples, aliás, seria definitivamente simples se não um retrato sincero da realidade, se não fosse uma autobiografia.
Dez jovens têm um anseio privilegiado no seu universo, eles desejam estudar. Este sonho, um bem tido como certo para muitos, é, numa sociedade que sobrevive exclusivamente de mão-de-obra para trabalhos esforçados, para Ikal, Lintang, entre outros meninos de Belitong, algo extremamente ambicioso, revelando-se uma tarefa árdua, um caminho repleto de dificuldades capaz de destruir algo precioso na infância destas crianças.
Seja pela distancia que têm de percorrer, sem meios aceitáveis, para frequentar a escola, seja pela necessidade de trabalhar para comer, pela miséria da própria instituição ou mesmo porque o próprio poder regional não tem interesse, a educação, quase como uma religião, foi para estes jovens a luta de uma vida e é algo que se reflecte do principio ao fim deste texto. Foi uma aventura cheia de extras, de lágrimas e de sorrisos, que, creio eu, encantará todos os leitores que desejarem descobrir um cantinho muito especial do outro lado do mundo, um pedacinho muito particular da Indonésia.

Tratando-se de vidas reais, para mim, como leitora, as personagens desenvolvidas acabam por me obrigar a uma maior reflexão e, embora eu não possa falar de todas elas, Ikal, Lintang e Bu Mus merecem definitivamente uma atenção especial.
Ikal, o próprio autor, não é mais do que uma entre centenas, milhares, de crianças, ainda assim foi com prazer que descobri a sua meninice - a sua partilha, os seus anseios e os seus castelos de areia de infância -, repleta de possibilidades singulares no seu mundo difícil. Mas o que mais gostei, no seu relato, foi do seu papel enquanto narrador, muito interessante, que oferece um jogo atractivo entre os seus pensamentos de infância e as reflexões que que tomaram conta de si durante o processo de escrita.
Lintang, por sua vez, é o tipo de menino que nos deixa constantemente comovidos e, quer seja pela sua coragem ou ambição, pela perseverança ou forma de amar, é um exemplo para todas as vidas dentro e fora deste livro, relembrando o quão diferente pode ser a existência de alguém se tiver nascido em condições ligeiramente mais favorecidas. 
No que respeita à professora de ambos, Bu Mus, a quem este livro é dedicado, ela é também mais um exemplo de vida a seguir. Extremamente jovem, mas com um espírito de responsabilidade, aos 15 anos, que muitos de nós nunca chegam a alcançar, ela transmite na perfeição a sua dedicação e paixão pela educação, algo extraordinário neste local onde só é possível ensinar por amor.

No geral, e por muito difíceis que alguns dos temas abordados se revelem, este livro realiza-se pela imagem de felicidade passada pelos que não têm nada, que se contentam com muito pouco e que encontram nas mais ínfimas conquistas a alegria de existir. E é esta moral, este conceito de felicidade que transmite através das coisas mais tristes as maiores satisfações que o ser humano pode almejar - como a amizade, a família, o amor e a aprendizagem constante -, que se obtém um gosto muito particular pela leitura e descoberta de um mundo tão diferente que sabe chegar ao coração.

Um livro diferente e de beleza rara que cruza uma linha sensível entre a ficção e o verídico, onde através da tinta se lê a alma de um escritor apaixonado por um país, uma região, que nada fez por si e que, talvez por isso, nunca o fez desistir de levar ao seu povo os direitos a que todos devem ter acesso.


No respeita à escrita de Andrea Hirata não me vou alongar, por tudo o que já escrevi no texto que podem encontrar aqui. Fica, no entanto, a noção de que o autor escreveu mais com o coração do que com o cuidado oferecer uma boa ficção o que, de certa forma, lhe dá um valor especial e me permite deixar-lhe um muito obrigado pela partilha da sua história e os sinceros parabéns por tudo o que realizou, e ainda realiza.

Esta é uma aposta Editorial Presença para um público diversificado e, acima de tudo, interessado por narrativas que vão um pouco além da nossa zona de conforto mas que, independentemente da qualidade das palavras, se acomodam em nós conquistando a nossa estima.


Autor: Andrea Hirata
Género: Romance


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